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No Laboratório

Sozinho em seu laboratório Doktor Orfanik olha pensativo para um capacitor de tântalo.  Toda tecnologia do século 21 é para ele algo não muito confiável, cada instrumento e dispositivo que ele usa fora cuidadosamente construído à mão.  Ainda assim alguma concessão podia ser feita.  Um antigo grimório do século treze aberto na bancada serve de orientação para a construção de uma máquina estranha.  O componente é soldado cuidadosamente, apenas um pequeno filamento de fumaça.  Nesse instante uma luz vermelha acende.  Uma mensagem de algum dos poucos e fiéis seguidores de Orfanik.  Télek saiu da Transilvânia. Isso poderia ser uma boa ou má notícia, provavelmente ruim.  Nada a fazer por enquanto, de volta ao laboratório.
Muitas horas de trabalho depois a máquina está pronta, cada sub-componente havia sido cuidadosamente testado.  Ligada a máquina, ela não funciona.  Sem desanimar, Orfanik re-testa e verifica cada aspecto até que exausto cai no sono.
Quase imediatamente após dormir começa um sonho.  Um dragão azul o persegue em uma caverna.  A cabeça do dragão se transforma na cabeça de Télek.  Orfanik mata o dragão e abre sua barriga.  De dentro retira a maquina na qual trabalhava.  Cada peça da maquina se transforma em um inseto.  Um dos insetos olha para Orfanik e começa aumentar de tamanho.  Orfanik sobe em suas costas e o animal, semelhante a um besouro alça vôo. Logo está em uma cidade e pousa aos pés de uma torre de ferro.  Lentamente a torre se desvanece até desaparecer totalmente.  Quando a torre sumiu Orfanik vê o rosto de uma jovem de cabelos púrpura. Ela diz:
– Olá.
Ele acorda imediatamente. Lembra-se perfeitamente do sonho, corre imediatamente para o computador e inicia uma busca.  Digita: A dama que dissolveu a Torre Eiffel.

 

O Castelo Hunedoara

As marcas de fuligem e a destruição de uma parede do Castelo Hunedoara eram visíveis.  Télek olhava com os olhos semicerrados, contendo a raiva. A parede podia ser reparada, mas os mortos permaneceriam assim.  Murmurou:
– Orfanik!
Orfanik era em parte como ele.  Ambos eram remanescentes de uma era que não existia mais.  Fósseis vivos da era do vapor, Télek porem havia se adaptado.  Tinha nova identidade, seguia os usos e costumes do século 21.  Orfanik nunca se conformara, vivia recluso uma época inexistente.  Um mundo próprio como é comum para os insanos.  Insano e genial, com sua própria ciência e religião, seguia apenas suas próprias leis.  Télek não compreendia porque Orfanik havia reaparecido, nem o motivo das mortes, mas estava decidido a agir.  Os mortos seriam vingados.  Télek subiu em sua motocicleta, corria pelas trilhas pouco usadas, subindo e descendo montanhas.  Lembranças de mais de 120 anos voltavam, muitas coisas nessa região remota ainda permanecem iguais. Quase uma hora depois chegou a uma remota caverna.  Pegou uma lanterna e percorreu os primeiros 50 metros o mais rápido que pôde, parou em frente a uma porta.
Uma porta redonda de madeira e bronze, totalmente coberta por engrenagens e trancas.  Por alguns segundos Télek ficou absorvido pelos mecanismos intricados da estranha porta.  A porta estava aberta, isso não era bom sinal.  Passou pela abertura circular e encontrou uma câmara vazia.  Percorreu o interior da caverna iluminando cada canto com a lanterna.  Todo o interior estava vazio, totalmente limpo.  Apenas a porta permanecia testemunha de que algum dia, alguém estivera naquele local.

Transilvânia, 2 de junho 2011

O Castelo Hunedoara foi atingido nessa madrugada por uma tempestade de raios.  O fenômeno meteorológico foi atípico, pois apesar das pesadas nuvens não havia chuva.  A ala norte sofreu danos severos.  No momento do acidente estavam reunidos no local membros da sociedade filantrópica “Fraternidade do Templo da Rocha Negra”.  Duas pessoas morreram e cinco ficaram gravemente feridas.  A polícia negou envolvimento de um misterioso dirigível que foi visto nas imediações no momento do acidente.  Nas palavras do comissário: ”Dirigível? Que dirigível?”.