A Herança

Herdei poucas coisas de meu avô, um binóculo, uma luneta, um microscópio e três garruchas. O binóculo e o microscópio funcionam perfeitamente até hoje, apesar de antigos.  A luneta parecia faltar uma das lentes internas.  Um dia resolvi finalmente verificar se a luneta podia ser consertada e comecei a desmontá-la.  Lentamente desatarraxei as delicadas peças de latão espalhando as sobre a mesa.  Dentro eu encontrei uma pequena chave dourada e um papel muito velho.  No papel estava escrito: “Beco do Inferno 33”.  Meu avô era uma pessoa sombria, mas Beco do Inferno é meio exagerado.
Sem saber o que fazer, montei novamente a luneta e sem muita surpresa verifiquei que ela ainda não funcionava.  Agora, além de uma luneta quebrada eu tinha um pequeno mistério nas mãos.  Se eu estivesse num livro de Dan Brown, “Beco do Inferno 33” não seria um endereço e sim um complexo quebra cabeça com significados simbólicos e a chave não seria uma chave.  Porém, eu achei que deveria ser um endereço, e como meu avô viveu seus últimos anos na cidade de São Paulo, onde eu moro, peguei o guia de ruas. Não achei nada, liguei o GPS do meu smarthphone e nada.  Convencido de que São Paulo não tem nenhum Beco do Inferno liguei o computador para fazer algumas pesquisas no Google e quem sabe descobrir algo.  Não demorou muito a busca, a internet me revelou que Beco do Inferno é o antigo nome da Rua do Comércio.  Uma pequena e estreita rua no centro da cidade, próxima à Bolsa de Valores.
Na primeira oportunidade peguei o metro e fui para a Praça da Sé.  Caminhando depressa na direção da Rua do Comércio meu coração batia cada vez mais acelerado, a ansiedade bombeando adrenalina.  Chegando ao local logo descobri que a rua além de minúscula não tem o número 33.  Localizei o pedaço de parede aonde deveria ser o numero 33, era somente uma parede.  Estava quase desistindo quando vi uma pequena tampa de bronze, próxima ao chão.  Agachei, experimentei a chave e abri.  Era uma caixa metálica, incrustada na parede, dentro havia um livro.  Retirei o livro, tranquei a porta e fui embora rapidamente, ninguém nem ao menos olhou para mim, uma das vantagens da vida em grandes cidades.
Lendo livro no metro, no caminho de volta para casa descobri que o livro era um diário, escrito pelo misterioso Doktor Orfanik.

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