O movimento de caminhões na madrugada irritava prostitutas e traficantes. Essas eram as únicas pessoas nessa região mal freqüentada do centro velho de São Paulo. Uma figura sinistra abriu as grandes portas de um velho armazém, um homem calvo, vestindo roupas estranhas. Com um sotaque difícil de definir ele saudou o motorista: – Por gentileza senhor. Essas caixas precisam ficar no fundo. Eram muitas caixas de madeira, aparentavam muito uso. Os usuários habituais se afastaram, sabendo que o movimento iria afastar os eventuais clientes. Horas depois os caminhões partiram, as velhas portas do armazém se fecharam e o homem em roupas estranhas começou a trabalhar. Seus poucos amigos e seus numerosos inimigos o conhecem como Doktor Orfanik. Seu verdadeiro nome e origem permanecem até hoje com um mistério. Herr Doktor trabalhou a noite toda, abrindo as caixas, instalando e montando aparelhos. A função de alguns dos dispositivos difícil de adivinhar pela aparência, mas na antiga estufa nos fundos está algo facilmente reconhecível. Mesmo pelos vidros sujos pode-se ver claramente o contorno arredondado de um dirigível. Seus planos eram decolar durante a noite, mas o sol já começou a nascer. Observando o céu, Orfanik notou que a cidade estava coberta por uma densa camada de nuvens. Os habitantes de São Paulo olhavam para o dia frio e sinistro e relutavam em sair da cama, porém Doktor Orfanik murmurou em tom baixo: – Perfeito. Graças à nova lubrificação, os painéis do teto da estufa se abriram quase sem nenhum ruído. A nave movida a vapor e sustentada por uma receita exclusiva de hidrogênio e argônio elevou nos céus. As poucas testemunhas no local há muito tempo não confiavam nos próprios olhos. Engolido pelas nuvens escuras o aparelho percorreu os céus da cidade. As pessoas nas ruas olhavam mal humoradas para o céu, sem saber que algo bem próximo de ocultava. Orfanik ligou o captador de cristal e começou a absorver energia das nuvens, absorvido pelos pensamentos: | – Os cientistas são todos uns tolos! Acreditam que as nuvens acumulam apenas eletricidade estática, mas o sol as carrega de energia orgônica. Os cristais faiscavam e brilhavam, absorvendo energia. Essa energia que outros chamam de chi, prana ou vril; mas nosso doutor prefere a terminologia de Wilhelm Reich: orgônio. Essa energia pode, em pequenas quantidades, ser usada para cura ou para destruição. Vários inimigos enfrentaram os raios gerados por esse aparelho e o resultado foi algumas vezes a morte. Orfanik prefere evitar o confronto direto, por isso veio ao Brasil aonde espera que nenhum de seus inimigos o encontre.
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Minha Jornada
Os homens da ciência são tolos, para eles tudo se explica pela matéria. Os místicos são outra espécie de tolos, para quem tudo no mundo material é resultado do mundo espiritual. Meus antigos irmãos da Fraternidade do Templo da Rocha Negra me ridicularizaram pelos meus estudos sobre a Tábua de Esmeralda. Quando um raio mortal destruiu o castelo nas montanhas da Carpatia onde ficava aloja da Fraternidade, tenho certeza que eles não acharam engraçado.
A ponte entre a ciência e o conhecimento místico existe, e estou cada vez mais próximo de encontrá-la. É surpreendente que essa jornada tenha me trazido ao Brasil. Aqui, no novo mundo, eu irei desenvolver minhas idéias integralmente, longe da malta ignorante .